Aral Moreira
‘O mito da neutralidade textual jornalística’, por Jefferson Machado Barbosa
POR JEFFERSON MACHADO
— 3574Esta matéria é resultado de embates que surgem, constantemente, entre o texto escrito jornalístico, produzido pela imprensa e veiculado pelos diversos meios de comunicação, digital, impresso e dentre outros; e o processo de interpretação que o sujeito leitor realiza com relação a tais textos.
O texto escrito jornalístico, além de sua composição de gênero textual, assume uma função social significativa em nossa sociedade ocidental tida como “pós-colonial”. O texto escrito jornalístico tem o papel, também, de levar a notícia aos leitores, nos diversos meios de comunicação, quais sejam: digitais, impressos, dentre outros; o texto escrito jornalístico funciona ainda, em parte, como requisito fundamental na formação de uma opinião, enquanto cidadão; funciona também como processo de “intertextualidade” de textos cujos temas são variados e complexos. Esse diálogo de textos serve para que o sujeito leitor se posicione contra ou a favor a determinado assunto ou texto jornalístico. Interessante destacar, aqui, que essa posição, ou ela é similar, isto é, concorda com o texto jornalístico ou convergente, ou seja, discorda de determinado tema publicado pelos veículos de comunicação.
Importante entendermos, também, que a partir do momento em que o leitor formula sua posição a favor ou contra a um determinado assunto ou texto escrito jornalístico, evidencia pensarmos que existe uma “democracia”, aparentemente, estabelecida e uma liberdade de imprensa, que na visão do escritor Fernando de Moraes, deveria haver uma lei que regulamenta até que ponto a imprensa deve intervir e se posicionar com relação aos fatos que acontecem no dia a dia.
O que é fundamental que o cidadão, leitor de textos escritos jornalísticos, mais que isso: leitor do mundo tenha em mente é a imparcialidade dos textos que circulam diariamente nos diversos meios de comunicação, sejam eles impressos, digitais, dentre outros formatos. Essa posição, digamos, pré-estabelecida da imprensa e, consequentemente dos textos, evidencia-nos pensar, além de sua complexidade textual, isto é, de que todo texto escrito, em sua essência, é complexo, tanto na sua elaboração, quanto na sua interpretação, sugere-nos a pensar na heterogeneidade e na liberdade que a imprensa possui, no momento de publicar sobre determinado fato e eixo temático, geralmente, polêmico ou algo que irá causar polêmica, pois além de informar, é papel da mídia chamar a atenção do leitor; é papel da mídia concorrer com tantos outros textos que circulam, constantemente, nos meios de comunicação, dentre outros papeis que não os citarei aqui.
A interpretação textual, em especial, de textos escritos jornalísticos pode ser encarada, dentre as inúmeras interpretações textuais que o ser humano pode realizar, como uma via de mão-dupla. Desse modo, as interpretações sempre serão variadas, pois, além de levar em consideração o público alvo, no caso os leitores, é de extrema relevância que se considere, também, a heterogeneidade do público, bem como sua posição social, seu repertório de mundo, sua idade, sua faixa etária, a linguagem escrita adotada para o público específico, dentre outros fatores. Além do mais, é importante ter em mente que nem sempre o processo de tradução do entendimento do texto escrito jornalístico será harmonioso, o que acaba por gerar uma repercussão, na maioria das vezes, não tão boa assim ou negativa.
Ao lermos um texto jornalístico, por exemplo, é imprescindível ter em mente a ideia de que jamais tal texto será neutro. (Nem mesmo este texto que eu vos apresento é neutro). Nessa perspectiva, todo texto escrito, em sua essência, tem sua posição social, ideológica, política e historicamente marcada por conta das interações textuais e sociais. E essa relação textual e social ora é harmoniosa, ora gera discrepância, ora é uma mescla de conformidade e de discórdia.
Aprofundando, ainda mais essa noção de texto imparcial, podemos notar que, muitas vezes, a mesma notícia circula de maneira diferente, com linguagem escrita distinta, com dados adulterados e com objetivos diferenciados, conforme o meio de comunicação e, segundo o interesse que a imprensa, responsável por veicular a notícia ou o texto jornalístico escrito, “obedece”.
Por fim, para finalizar essa breve e superficial reflexão sobre o mito da neutralidade do texto escrito jornalístico, se de um lado nós temos a imprensa, com sua garantia de liberdade de expressão e “democraticamente” realiza o papel de informar e levar a notícia de modo rápido e com uma posição pré-estabelecida dos dados apurados, do outro lado temos o leitor, responsável por construir uma posição em meio ao turbilhão de notícias que circulam no dia a dia a respeito de determinado assunto. Saber a veracidade da notícia? Duvidar? Concordar? Cabe a você, leitor, ler mais de um texto (escrito ou oral) sobre o mesmo conteúdo e formular sua própria posição sobre o assunto, pois a cidadania democrática se inicia no momento em que postulamos o que entendemos como correto e o que não concordamos.